Entrevista exclusiva para O amigo de Wigner com uma Nobel em medicina e fisiologia: FAIL.
Munido de um minigravador, um bloco de papel, uma caneta , e minha imponente camêra com seus poderosos 3 megas, me dirigi a sala VIP do teatro da PUC-RS, no dia 18 de Março para tentar uma entrevista com a Dra. Christiane Nüsslein-Volhard , do instituto Max Planck da Alemanha e jubilada com o Nobel de medicina e fisiologia de 1995, devido aos seus trabalhos em desenvolvimento embrionico.
Ela estava de passagem ao Brasil para participar do ciclo de encontros
“Evolução: Transversalidades” e iria palestrar "Sobre moscas e peixes: o surgimento dos vertebrados", eu pensei que seria legal cobrir o evento já que este aqui é um blogue sobre ciências (ultimamente mais sobre evolução mesmo) e seria melhor ainda tentar conseguir algumas palavras da cientista do tipo: " Eu colapso a função de onda relacionado a ler ou não o
Amigo de Wigner" e por ai vai...
Com minha
cara de pau audácia, fui conversar com a coordenadora de comunicação da PUC, uma moça muito simpática sobre minhas intenções... Ela pede para mim esperar, então diz que eu posso entrar na sala e que poderia fotografar a coletiva, contanto que ficasse quieto sem atrapalhar os verdadeiros profissionais, os jornalistas, que iam entrevistar formalmente a professora.
Já estava ótimo para mim, eu disse que era um acadêmico de ciências biológicas da Unisinos, e fazia parte do projeto
divulgarciencia.com (provavelmente foi isto que me liberou) pois se chegasse falando que tinha um blogue (amigos de quem?), provavelmente eu iria ver do lado de fora...
Dentro da sala, a Dra. Christiane estava sentada e os repórteres com suas equipes ao redor, claro que minha equipe contava somente com este aqui, tive de fotografar, segurar o gravador, escrever, bater palma, assoviar e tocar apito ao mesmo tempo (por isso as fotos meio tremidas), e começou a roda de perguntas: primeiro uma moça muito bonita do canal que passava o fofão, perguntou sobre- Eugenia..., de primeira a Nobel se negou a responder esta pergunta, e disse que não era sobre isso que iria falar... Parecia que toda a pauta da repórter bonita tinha ido pelo ralo, devido a sua cara... Bom, então ela improvisou algo e perguntou sobre a vida de Darwin, a viagem e tudo o mais.
Após, veio um reporter de uma outra emissora, e tasca somente duas perguntas sobre células tronco, e ela responde que não trabalha naquela área mas que poderia falar um pouco sobre a polêmica...
Fiquei me segurando para não me meter e tentar "salvar" o dia, pois ela parecia realmente entendiada com os tipos de perguntas e sobre o desconhecimento total dos seus trabalhos pelos jornalistas, que numa simples passadinha no google poderiam descobrir algo de util para se perguntar, como a suposta
destruição da árvore da vida darwininana, devido aos efeitos de transferência horizontal gênica, sobre sua
instituição, sobre ser mulher no meio ciêntifico, sobre evo-devo... Enfim.
Então, o rapaz, da TV PUC se não me engano, ficou um bom tempo perguntando mais coisas sobre darwin, criacionismo, células tronco (de novo) e outras coisas que tambem ela não se extendeu muito a responder...
Mas a melhor entrevista, para mim, foi de uma outra repórter muito bonita que perguntou algo do tipo "O que os estudos do darwin lá em galápagos podem nos ensinar sobre a genética de hoje em dia" wtfk!!! e o senhor que estava "interpretando" as reposta do alemão para o português diz algo sobre as gaivotas de Darwin...?
Encerraram a entrevista, pois o início de sua palestra já estava atrasada, e eu no mais humilde arquétipo de garoto do interior, dou uma corridinha atrás dela, como um science groupie e chego perto do interprete que estava ao meu lado, e digo: será q eu poderia trocar meia palavra com a moça? pois sou estudante e blá blá, e o senhor "Gaivotas de Darwin" diz: "A entrevista acabou..."
Me dirigi, totalmente atrasado e encontro no hall da justiça, alguns colegas de curso, e entro para assistir a palestra, só que sem os fones de tradução ( não me importei com esse detalhe pois também sou troglodita, digo, poliglota) e me acomodei no chão, pois nao tinham mais lugares disponíveis...
Foi uma palestra visualmente atrativa, um pouco sobre a vida de Darwin, sobre a historia evolutiva dos grandes grupos de seres e sobre alguns de seus trabalhos com desenvolvimento de embrioes de zebra-fish (
Dario dario), um dos queridinhos da biologia molecular, fora é claro, a Drosophila que seus estudos lhe permitiriam ganhar o prêmio Nobel, por isso "Senhora das moscas", em alusão ao livro
"Lords of the fly" sobre os trabalhos desenvolvidos na célebre
"fly room" da universidade Columbia, comandadas por Thomas H. Morgan. Ela também apresentou diversos videos de desenvolvimento do zebra fish, como esse
aqui, e videos de visualizações dos marcadores GFP nos organismos estudados. Eu teria de dedicar muitos posts aos trabalhos desenvolvidos pela Dra. Nüsslein, devido a importância de seus trabalhos no conhecimento da genética e desenvolvimento (os genes headhog por exemplo foi ela que descreveu), sobre a sua instituição que apoia
mães cientistas e muitas outras coisas...
A idéia dessa incursão era realizar uma "cobertura" pseudojornalística de um evento científico importante, mas foi algo que acabou degringolando, várias coisas deram errado, é o que acontece quando nao se é um jornalista e sim um não-cientista, mas valeu muito, não é sempre que se conhece uma grande cientista como ela, e também foi divertida essa experiencia louca no melhor estilo jornalismo científico "gonzo".
No fim, tirei uma foto com um Carnotaurus e terminei a noite conversando numa bar com um parceiro de biologia sobre fenomenos quânticos na biologia...
Agradeço à Sandra e ao Eduardo da assessoria de comunicação da PUC pelo apoio no dia.
Espero não ter problemas com a emissora com a brinquedeira da foto...