O fabuloso figo da índia

"...Ora, uma simples fruta, a singela banana, prova a existência do Criador e do Amor..."
- retirado do site "Pai de Amor".

Um argumento utilizado para comprovar a existência da mão de um designer divino na Natureza é a perfeição de alguns frutos apreciados por todos nós, como "a singela banana", mas então quem será que teve a idéia de criar o "fabuloso figo da índia"? Se foi o mesmo designer, ou ele quis que ficassemos longe de seu doce sabor ou tinha um senso de humor de um menino de 8 anos.
O figo da índia é uma planta da família das cactáceas, famosas por seus espinhos e pelo desenho do pica-pau no velho oeste, e como qualquer angiosperma, possui flores, sementes e frutos, só que o fruto do gênero botânico Opuntia, conhecido por figo da índia, além de ser doce e suculento possui em sua casca um tipo de "penugem" composta por minúsculos espinhos, que são folhas modificadas resultantes da adaptação em ambientes secos, que precisam ser retirados para você não espetar a lingua ao dar uma mordida nele. As técnicas de remoção de espinhos variam, nesse blogue de culinária há um dica preciosa.
E então, descobri esse pessoal de Phoenix, no deserto do Arizona, que produz uma linha de doces com o fruto, do tipo balas e marmeladas, e já tinha visto compotas e geléias aqui na minha região mesmo, só que o design dos produtos do pessoal da "Cactus Candy" me chamaram a atenção, talvez por eles criarem com muito amor as suas embalagens, ou devido à concepção artística maneira do cactus Carnegiea gigantea, eu gostaria muito de receber de presente uma caixinha dessas, e você não?



Lá no Devoniano, quando os fungos eram gigantes

No século 19, o cientista canadense Sir John William Dawson (1820-1899) relatou a descoberta de uma estranha espécie de tronco fossilizado, que ele batizou de Prototaxites e a descreveu como sendo um ancestral do gênero de coníferas Taxus, enquanto a comunidade científica dizia que eram algas grandes. No fim de sua vida, J.W Dawson terminou concordando com essa definição.
Em 2001, o paleontólogo Francis Hueber retomando a hipótese de que a espécie na verdade era um fungo que chegava a alcançar aproximadamente 6 metros de altura e que tinha vivido entre 420 a 350 milhoes de anos atrás, entre os períodos geológicos Devoniano e Siluriano, apresentou evidências fortes para o Prototaxites ser incluido no Reino dos fungos, devido as suas estruturas internas e morfologia, mas somente em 2007 surgiram mais evidencias que suportam a idéia de Hueber. Num estudo independente cientistas realizaram medições de isotópos de carbono (são átomos com mesmo n° de protôns, mas diferente n° de neutrôns) do fóssil e de outras plantas fossilizadas que foram encontradas na mesma região, e se a espécie fosse uma planta ou alga, entao deveria conter uma certa quantidade padrão de isotópos, ja que as plantas através da fotossíntese produzem a sua propria matéria orgânica (que contem carbono) já os fungos precisam obter o carbono de outros meios, e os resultados do experimento mostraram que as taxas de isotopia no Prototaxites variava bastante, sugerindo que ele realmente retirava o carbono de outros lugares, assim como os fungos o fazem.

Imagine só, 50 milhões de anos antes de surgirem árvores ou vertebrados, um fungo colossal se extendia para os céus numa paisagem dominada por vermes e insetos. Um lugar extraterrestre para nossos olhos recentes de mamífero.

Fonte: Science daily

Infelizmente só para assinantes: aqui, e o resumo do artigo de Francis Hueber: aqui


"Eles riram de Galileu, mas também riram do Bozo"

Ruth de Aquino, a diretora da sucursal da revista Época, em sua coluna , disse:

"Ler sobre pesquisas científicas de universidades respeitadas é uma receita certa para dar risada"

Mais um dos sintomas do pós-modernismo, onde é legal criticar a ciência, os cartesianos, derrubar "paradigmas" , onde falam sobre uma ciência dominadora e esquecem que, como qualquer empreendimento humano a ciência possui falhas, e claro que não está acima de criticas, na verdade podemos dizer que é a unica área do conhecimento onde existe um sistema de autocorreção e onde as críticas são até encorajadas, e independente se você é um não-cientista, ou um doutor, se tiver treinamento suficiente pode contestar alguma coisa . Só que a grande piada acontece quando uma pessoa, teoricamente bem informada que se beneficia diretamente da vida que a própria ciência e seus "tontos" ciêntistas propiciaram, e nao falo de internet, remédios, preservativos, salgadinhos elma-chips, ver de porto alegre o radiohead em SP, falar com pessoas de além mar, mas de algo que surgiu nas cavernas, que é olhar para natureza e se perguntar "como"? e "o que eu posso fazer com isso"?
Boa parte dos estudos que a moça citou são estatíscos (não conhece essas senhoras?) que dizem a probabilidade de algo, e nao a certeza de algo, e também são estudos da área da pepsicologia, digo, psicologia.
Deveras engraçado, e se você quer continuar se informando como a moça bonita da foto, boa sorte com isso, mas se tem interesse em descobrir o que é essa coisa tão surrada (pelo menos no Brasil) que faz cientistas de verdade e não-cientistas como eu gastar alguns minutos do seu tempo escrevendo formal e informalmente sobre essa maneira tão preciosa de entender o mundo, leia os blogues, vá atrás e de uma chance a ciência.

Para fica por dentro (e ler comentários mais sérios):
Título em homenagem ao maior divulgador de ciência, Dr. Carl Sagan.

A senhora das moscas e as gaivotas de Darwin

Entrevista exclusiva para O amigo de Wigner com uma Nobel em medicina e fisiologia: FAIL.
Munido de um minigravador, um bloco de papel, uma caneta , e minha imponente camêra com seus poderosos 3 megas, me dirigi a sala VIP do teatro da PUC-RS, no dia 18 de Março para tentar uma entrevista com a Dra. Christiane Nüsslein-Volhard , do instituto Max Planck da Alemanha e jubilada com o Nobel de medicina e fisiologia de 1995, devido aos seus trabalhos em desenvolvimento embrionico.
Ela estava de passagem ao Brasil para participar do ciclo de encontros “Evolução: Transversalidades” e iria palestrar "Sobre moscas e peixes: o surgimento dos vertebrados", eu pensei que seria legal cobrir o evento já que este aqui é um blogue sobre ciências (ultimamente mais sobre evolução mesmo) e seria melhor ainda tentar conseguir algumas palavras da cientista do tipo: " Eu colapso a função de onda relacionado a ler ou não o Amigo de Wigner" e por ai vai...
Com minha cara de pau audácia, fui conversar com a coordenadora de comunicação da PUC, uma moça muito simpática sobre minhas intenções... Ela pede para mim esperar, então diz que eu posso entrar na sala e que poderia fotografar a coletiva, contanto que ficasse quieto sem atrapalhar os verdadeiros profissionais, os jornalistas, que iam entrevistar formalmente a professora.
Já estava ótimo para mim, eu disse que era um acadêmico de ciências biológicas da Unisinos, e fazia parte do projeto divulgarciencia.com (provavelmente foi isto que me liberou) pois se chegasse falando que tinha um blogue (amigos de quem?), provavelmente eu iria ver do lado de fora...

Dentro da sala, a Dra. Christiane estava sentada e os repórteres com suas equipes ao redor, claro que minha equipe contava somente com este aqui, tive de fotografar, segurar o gravador, escrever, bater palma, assoviar e tocar apito ao mesmo tempo (por isso as fotos meio tremidas), e começou a roda de perguntas: primeiro uma moça muito bonita do canal que passava o fofão, perguntou sobre- Eugenia..., de primeira a Nobel se negou a responder esta pergunta, e disse que não era sobre isso que iria falar... Parecia que toda a pauta da repórter bonita tinha ido pelo ralo, devido a sua cara... Bom, então ela improvisou algo e perguntou sobre a vida de Darwin, a viagem e tudo o mais.

Após, veio um reporter de uma outra emissora, e tasca somente duas perguntas sobre células tronco, e ela responde que não trabalha naquela área mas que poderia falar um pouco sobre a polêmica...
Fiquei me segurando para não me meter e tentar "salvar" o dia, pois ela parecia realmente entendiada com os tipos de perguntas e sobre o desconhecimento total dos seus trabalhos pelos jornalistas, que numa simples passadinha no google poderiam descobrir algo de util para se perguntar, como a suposta destruição da árvore da vida darwininana, devido aos efeitos de transferência horizontal gênica, sobre sua instituição, sobre ser mulher no meio ciêntifico, sobre evo-devo... Enfim.
Então, o rapaz, da TV PUC se não me engano, ficou um bom tempo perguntando mais coisas sobre darwin, criacionismo, células tronco (de novo) e outras coisas que tambem ela não se extendeu muito a responder...
Mas a melhor entrevista, para mim, foi de uma outra repórter muito bonita que perguntou algo do tipo "O que os estudos do darwin lá em galápagos podem nos ensinar sobre a genética de hoje em dia" wtfk!!! e o senhor que estava "interpretando" as reposta do alemão para o português diz algo sobre as gaivotas de Darwin...?
Encerraram a entrevista, pois o início de sua palestra já estava atrasada, e eu no mais humilde arquétipo de garoto do interior, dou uma corridinha atrás dela, como um science groupie e chego perto do interprete que estava ao meu lado, e digo: será q eu poderia trocar meia palavra com a moça? pois sou estudante e blá blá, e o senhor "Gaivotas de Darwin" diz: "A entrevista acabou..."
Me dirigi, totalmente atrasado e encontro no hall da justiça, alguns colegas de curso, e entro para assistir a palestra, só que sem os fones de tradução ( não me importei com esse detalhe pois também sou troglodita, digo, poliglota) e me acomodei no chão, pois nao tinham mais lugares disponíveis...
Foi uma palestra visualmente atrativa, um pouco sobre a vida de Darwin, sobre a historia evolutiva dos grandes grupos de seres e sobre alguns de seus trabalhos com desenvolvimento de embrioes de zebra-fish (Dario dario), um dos queridinhos da biologia molecular, fora é claro, a Drosophila que seus estudos lhe permitiriam ganhar o prêmio Nobel, por isso "Senhora das moscas", em alusão ao livro "Lords of the fly" sobre os trabalhos desenvolvidos na célebre "fly room" da universidade Columbia, comandadas por Thomas H. Morgan. Ela também apresentou diversos videos de desenvolvimento do zebra fish, como esse aqui, e videos de visualizações dos marcadores GFP nos organismos estudados. Eu teria de dedicar muitos posts aos trabalhos desenvolvidos pela Dra. Nüsslein, devido a importância de seus trabalhos no conhecimento da genética e desenvolvimento (os genes headhog por exemplo foi ela que descreveu), sobre a sua instituição que apoia mães cientistas e muitas outras coisas...
A idéia dessa incursão era realizar uma "cobertura" pseudojornalística de um evento científico importante, mas foi algo que acabou degringolando, várias coisas deram errado, é o que acontece quando nao se é um jornalista e sim um não-cientista, mas valeu muito, não é sempre que se conhece uma grande cientista como ela, e também foi divertida essa experiencia louca no melhor estilo jornalismo científico "gonzo".
No fim, tirei uma foto com um Carnotaurus e terminei a noite conversando numa bar com um parceiro de biologia sobre fenomenos quânticos na biologia...
Agradeço à Sandra e ao Eduardo da assessoria de comunicação da PUC pelo apoio no dia.
Espero não ter problemas com a emissora com a brinquedeira da foto...

Evolution sucks!

Termine de ler aqui.

Dica do blogue "Discutindo Ecologia".
Direto dos lindos e engraçados quadrinhos do "Bird and Moon" da ilustradora Rosemary Mosco.

Sexo, violência e evolução

Durante o sexo do pequeno inseto Afrocimex constrictus, ao invés de eles fazerem o papai e mamãe das noites de terça feira (ou quarta?), os machos preferem variar "um pouco", e utilizam o seu membro "afiado" para perfurar o exoesqueleto das fêmeas e liberar os espermatozóides diretamente em sua corrente sanguínea, mesmo elas possuindo aparelho reprodutor externo (que elas utilizam somente para pôr os ovos), elas ainda desenvolveram um órgão paragenital, que é a cavidade onde é depositado o sêmen, conhecido em inglês como spermalege, que aparentemente, ao longo da evolução foi utilizado para amenizar as injúrias que ocorrem durante o sexo, denominado de "inseminação traumática". Não contentes, os machos copulam com outros machos, também liberando o esperma em seu corpo, e pelos mesmos motivos das fêmeas, eles também desenvolveram uma cavidade similar à femêa, para ser depositado o esperma. O mais bizarro é que não acaba por aí, em algumas cavernas, descobriu-se que fêmeas mimetizavam a spermalege falsa dos machos, pois assim eram menos machucadas do que as que possuem o órgão verdadeiro! No artigo "Female-Limited Polymorphism in the Copulatory Organ of a Traumatically Inseminating Insect", da revista The American Naturalist foram identificados esses polimorfismos discretos nas fêmeas que imitam o órgão dos machos, coisa típica da dinâmica da Rainha vermelha.
Um conflito sexual único, complexo e estranho da Natureza, e ainda você acha que precisa dos sexólogos? (sem ofensa).



Origem da fotossíntese

Um elétron sacode no Sol, e oito minutos depois outro elétron sacode na planta, mediados por um pequeno fóton que tem a "tarefa" de carregar a força eletromagnética de um canto para o outro no Universo. É o mesmo processo fundamental que possibilita que você possa ver a menina bonita lendo o livro no trem e impede que você atravesse as paredes. Mas as linhas que seguem pretendem falar um pouco sobre a fotossíntese (poderia me extender mais, só que as 05:30 da madrugada depois de um show de rock fica complicado).
O primeiro caso de poluição em grande escala ocorreu por volta de 2 bilhões de anos atrás, quando as primeiras formas de vida fotossíntetizantes começaram a liberar grandes quantidades de oxigênio na atmosfera, provavelmente intoxicando boa parte dos microrganismos que viviam na Terra, e muitos deles continuaram até hoje em poças anóxicas e e dentro de nossos intestinos.
Se você possui acesso ao site da Science, saiu ontem, dia 06 de março, esse artigo especial celebrando o Ano de Darwin, que deve ser muito legal: "On the Origin of Photosynthesis".
Em 1985, foi proposto pelos responsáveis do artigo "Eubacteria, halobacteria, and the origin of photosynthesis: the photocytes" o nome "Photocytes", que seria um grupo monofilético formado pelas eubactérias e as halobactérias, onde, evolutivamente seria encontrado o início desse mecanismo de aproveitamento da abundante luz solar, e os dados da pesquisa sugerem que todos os os fotossintetizantes descendem de um único ancestral comum que possuia algum tipo de proto-mecanismo que realizava essa função. É estranho tentar imaginar a vida na Terra sem esse maquinário silencioso das plantas e algumas bactérias, talvez ficasse por isso mesmo, pequenos nichos de sopa primordial espalhados pela superfície do planeta e em lugares extremos como nas fossas oceânicas, mas sem meninas lendo seus livros no trem ou plantas a medrar no deserto esperando alguem para a contemplar.

Foto: NzDave


A boniteza da feiúra

O rato toupeira-pelado (Heterocephalus glaber) provavelmente não ganharia nenhum concurso de beleza animal e muito menos sua foto seria encontrada na parede do quarto de uma menininha... Isso por que ele esta fora dos padrões convencionais de boniteza, mas a despeito de sua aparência cadavérica, os segredos da longevidade e da resistência à dor podem se ocultar no metabolismo desse animal.
A biologia dessas criaturas Africanas é estranha... São mamíferos eussociais, como as abelhas e cupins e a prole é gerada através de uma única fêmea, a Rainha, que copula com poucos machos (de 1 a 3) da colônia, onde as outras fêmeas são estéreis. Suas adaptações, que provém do estilo de vida do "submundo" incluem olhos pequenos como frestas, audição acurada e habilidade de sentir pequenas vibrações através da pele.
Esses animais apresentam maior longevidade que seus parentes e desafiam o conhecimento atual sobre as causas do envelhecimento celular. A teoria padrão do envelhecimento postula que as principais causas da degradação celular são consequências do acúmulo de danos oxidátivos nas células e no material genético ao longo da vida do organismo, mas os dados da pesquisa apresentada no artigo "Protein stability and resistance to oxidative stress are determinants of longevity in the longest-living rodent, the naked mole-rat", mostram que os níveis de peroxidação lipídica, carbonilação proteica e oxidação no DNA (que estão ligados ao stress oxidativo) nos ratos- toupeiras, são bem maiores que nos camundongos, e esses resultados sugerem que os danos oxidativos, per se, podem não afetar a longevidade, e sim outros mecanismos como, maior quantidade de proteínas de reparação. A pesquisadora Rochelle Buffenstein e seu grupo de pesquisa da University of Texas Health Science Center em San Antonio, extraíram tecido do fígado do rato toupeira e do camundongo e trataram o material com reagentes para "desenrolar" as proteínas para visualisar a sua conformação, e o resultado foi que as proteínas dos ratos-toupeiras apresentaram quantidade menor de danos do que nos camundongos, o que sugere que a máquinaria de reparação protéica permanece ativa por mais tempo no rato-toupeira.

Não bastasse isso, aparentemente eles são imunes a dor, no qual foi objeto de estudo do Neurobiólogo Thomas Park, da University of Illinois em Chicago e de diversos outros pesquisadores, no artigo "Selective Inflammatory Pain Insensitivity in the African Naked Mole-Rat(Heterocephalus glaber)", onde identificaram em seu organismo a falta da substância P, que é um neuropeptídeo ligado a inflamações e ao sentido de dor nos mamíferos. O próximo passo seria identificar e entender esses mecanismos para pensar em suas aplicações futuras na medicina.
O que é realmente bonito são essas idiossincrasias que encontramos no interior dos seres e da Natureza.

Desenho: Rufus, o mascote da Kim Possible