A boniteza da feiúra

O rato toupeira-pelado (Heterocephalus glaber) provavelmente não ganharia nenhum concurso de beleza animal e muito menos sua foto seria encontrada na parede do quarto de uma menininha... Isso por que ele esta fora dos padrões convencionais de boniteza, mas a despeito de sua aparência cadavérica, os segredos da longevidade e da resistência à dor podem se ocultar no metabolismo desse animal.
A biologia dessas criaturas Africanas é estranha... São mamíferos eussociais, como as abelhas e cupins e a prole é gerada através de uma única fêmea, a Rainha, que copula com poucos machos (de 1 a 3) da colônia, onde as outras fêmeas são estéreis. Suas adaptações, que provém do estilo de vida do "submundo" incluem olhos pequenos como frestas, audição acurada e habilidade de sentir pequenas vibrações através da pele.
Esses animais apresentam maior longevidade que seus parentes e desafiam o conhecimento atual sobre as causas do envelhecimento celular. A teoria padrão do envelhecimento postula que as principais causas da degradação celular são consequências do acúmulo de danos oxidátivos nas células e no material genético ao longo da vida do organismo, mas os dados da pesquisa apresentada no artigo "Protein stability and resistance to oxidative stress are determinants of longevity in the longest-living rodent, the naked mole-rat", mostram que os níveis de peroxidação lipídica, carbonilação proteica e oxidação no DNA (que estão ligados ao stress oxidativo) nos ratos- toupeiras, são bem maiores que nos camundongos, e esses resultados sugerem que os danos oxidativos, per se, podem não afetar a longevidade, e sim outros mecanismos como, maior quantidade de proteínas de reparação. A pesquisadora Rochelle Buffenstein e seu grupo de pesquisa da University of Texas Health Science Center em San Antonio, extraíram tecido do fígado do rato toupeira e do camundongo e trataram o material com reagentes para "desenrolar" as proteínas para visualisar a sua conformação, e o resultado foi que as proteínas dos ratos-toupeiras apresentaram quantidade menor de danos do que nos camundongos, o que sugere que a máquinaria de reparação protéica permanece ativa por mais tempo no rato-toupeira.

Não bastasse isso, aparentemente eles são imunes a dor, no qual foi objeto de estudo do Neurobiólogo Thomas Park, da University of Illinois em Chicago e de diversos outros pesquisadores, no artigo "Selective Inflammatory Pain Insensitivity in the African Naked Mole-Rat(Heterocephalus glaber)", onde identificaram em seu organismo a falta da substância P, que é um neuropeptídeo ligado a inflamações e ao sentido de dor nos mamíferos. O próximo passo seria identificar e entender esses mecanismos para pensar em suas aplicações futuras na medicina.
O que é realmente bonito são essas idiossincrasias que encontramos no interior dos seres e da Natureza.

Desenho: Rufus, o mascote da Kim Possible

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